Você já ouviu falar em demissão silenciosa? Como estudante ativa do mercado de trabalho esse assunto me chamou a atenção, porque ab initio, na maioria das fontes em que se vê esse assunto, nota-se que a forma em que esse novo instituto é colocado em pauta é de benefício para os trabalhadores e as empresas.
Esse é um fenômeno recente, e evidencia como os profissionais estão enxergando a sua participação dentro das empresas. Esse “fenômeno” é mais comum entre os mais jovens, e ainda segundo os escritores sobre o caso, merece a atenção das empresas.
Ele surgiu mais especificamente no período pós-pandemia, com a maior incidência da síndrome de burnout, que é a síndrome do esgotamento ou, como é mais comum dizer, síndrome da estafa, que se trata segundo o ministério da saúde, de um “distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade”.
Desta forma, com a pandemia e a migração para o home office, houve um aumento das horas dedicadas ao trabalho e confusão no ambiente doméstico gerando dificuldade de estabelecer um limite entre trabalho e vida pessoal.
O termo demissão silenciosa (quiet quiting, em inglês) surgiu na rede social tik tok, e não se trata de um pedido de demissão pelo funcionário, mas sim, de um desengajamento com sua função, a famosa aplicação da “lei do menor esforço” onde o indivíduo limita-se a cumprir estritamente o combinado no contrato de trabalho fazendo seu mínimo, buscando realização pessoal, saúde mental e maiores salários.
Essa conduta, segundo a maioria dos artigos nos quais encontrei informações, traz sua raiz na atual cultura organizacional capitalista que busca a não valorização do indivíduo em seus pensamentos pessoais, levando uma liderança sem empatia e geradora de desanimo por ser pouco estimulante.
Entre os jovens, tem-se observado uma mudança de cultura em relação aos “viciados em trabalho”, popularmente conhecidos como workaholics.
Durante muitos anos, trabalhar muito, foi visto como algo positivo e que conferia prestígio ao profissional. Sair de casa muito cedo e retornar tarde da noite, em função do trabalho, foi visto por muito tempo como algo que dignificava a existência humana.
Com o passar dos anos e com a busca pela qualidade de vida, o incentivo ao ato de aproveitar a vida e curtir com amigos e famílias trouxe outra percepção para as pessoas, que passaram a buscar mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Deste modo, segundo essa teoria você não deixa de realizar seu trabalho, porém, você dá-se o menor de si e busca colher o máximo, desta forma o trabalho ainda existe, mas o indivíduo não se sobrecarrega, já que é por meio do trabalho que as pessoas conseguem sobreviver, pagar contas e realizar seus desejos.
Os adeptos a essa demissão esclarecem que essa realização do mínimo diário no emprego é a saída para quem busca realização pessoal com uma vida mais saudável, porém, o pedido de demissão em si não se apresenta como uma opção viável, pois os trabalhadores dependem de benefícios e pagamento.
E ainda, os aderentes a essa conjectura relatam que o excesso de trabalho é prejudicial à saúde mental e que as pessoas precisam colocar limites ao tempo e à intensidade com que se dedicam ao trabalho para poderem ter tempo para viver suas vidas.
Na verdade, o propósito do movimento é fazer aquilo para o qual o profissional foi pago e nada além disso. É como se fosse uma contracultura àqueles funcionários que “vestem a camisa da empresa”.
Isso porque, na visão desses profissionais, as pessoas estão adoecendo e não conseguindo encontrar um limite para as horas dedicadas ao trabalho. Isso não tem permitido realizar atividades pessoais, descansar e conviver com amigos e família.
Assim, na prática, a proposta seria colocar limites bem definidos ao tempo dedicado ao trabalho de forma que “cavando sua demissão” o profissional se desligasse por completo pouco a pouco, inclusive deixando de responder mensagens e ligações.
Ou seja, o foco desse movimento é a ideia de não “se doar ao máximo” pela empresa, trabalhando exaustivamente pelo negócio, mas cumprindo apenas aquilo para o qual o profissional foi contratado e é pago.
Em síntese, em todas as fontes em que li sobre esse assunto, foram citados que estudos recentes trazem que os jovens estão cada vez mais buscado flexibilidade e propósito em seus empregos, além de equilíbrio e satisfação, não permitindo que o trabalho controle suas vidas, e ainda ressaltam que trabalhar o mínimo pode parecer estranho, mas funcionário e seu empregador não devem temer a demissão silenciosa, pois pode ser algo muito bom para ambos.
Ponderando todas essas informações, é claro que essa teoria é no mínimo incongruente, como sair do emprego aplicando um olhar estritamente egoísta e demasiadamente empobrecido, pois exalta a acomodação dos funcionários lhe trará maiores salários? Incongruente ainda contar com a sorte para que “caia no colo” alta remuneração e saúde mental, pois sem um trabalho árduo e eficiente comumente e realisticamente não se colhe bons resultados e muito menos riqueza.
Essa atitude de fazer seu mínimo e “cavar sua demissão” segundo o instituto, busca a felicidade e equilíbrio mental, e ainda elimina o impacto negativo de se sentir competindo com os colegas de trabalho, não é à toa que os índices de suicídios estão tão altos nos últimos tempos, a sociedade jovem em sua maioria busca enriquecer ao menor esforço e negar a realidade.
Todos que lidam com relação interpessoais nos ambientes de trabalho veem nitidamente que um ambiente laboral competitivo instiga a melhora e consequente promoção geradora de felicidade pelo mérito da conduta.
Quando não há produtividade, não haverá maiores lucros geradores de melhores remunerações, este instituto caótico atualmente chamado de “fenômeno da demissão silenciosa” tenta ir na contramão da naturalidade real antropológica, uma vez que sem competitividade o ser humano não evolui, pois não luta por algo melhor.
A competição saudável busca um equilíbrio entre o desejo de evolução e o autoaperfeiçoamento dos funcionários.
Construir um clima saudável e competitivo é fundamental para aumentar a produtividade, a inovação e a motivação da equipe, essa cultura corporativa deve incentivar esses valores sem estimular uma competição insana e negativa, que tenha impacto prejudicial nos resultados e no ambiente geral.
As leis trabalhistas estão aí para proteger o funcionário do abuso, e cerificar que todos os direitos estão sendo cumpridos pelo empregador, por intermédio dos fiscais e procuradores do trabalho e pela justiça laboral na parte contenciosa.
O que se espera do funcionário é que cumpra seu papel para que fora contratado da melhor forma possível, gerando um ambiente de trabalho favorável ao enriquecimento integral, onde empregado e empregador possam, dentro de um cenário possível e congruente, enriquecer juntos, e se por virtude a relação empregatícia não vingar por falta de confiança ou qualquer outro motivo, as dispensas por justa causa ou sem justa causa existem para proteger ambas as partes.
Já ouviu a expressão “dar murro em ponta de faca”? A conclusão que tiro sobre o estudo deste instituto evidencia essa expressão, pois não adianta lutar contra a realidade, no mercado o que manda são os lucros, e se os indivíduos quiserem obter salários maiores conforme diz os estudiosos do fenômeno, a única alternativa é gerar resultados através do trabalho despontado entre os demais. A regra é e sempre foi, que “quem mais faz tem mais chances de quem menos faz”.